Xícara de café

Eu estava sentada na cadeira perto da janela. Chovia muito lá fora. Um ótimo motivo pra dispensar minhas corridas habituais as seis da manhã e observar a chuva acompanhada por uma xícara de café. Eu estava tão absorta nos meus pensamentos que nem percebi quando o telefone tocou várias vezes seguidas. Despertei dos meu devaneios quando a campainha de casa tocou fortemente. Me levantei da cadeira furiosa. Odiava quando alguém tocava a campainha muito forte. Isso perturbava minha paz. Antes de ver quem era, parei no espelho, ajeitei meu cabelo bagunçado e coloquei um vestido fino por cima da camisola. Como tenho ficado bastante só esses dias, nem me dou o trabalho de me arrumar quando sei que não vou sair de casa. Quase me arrependi de não ter colocado um pingo de maquiagem quando vejo quem está na minha porta. 

Um cara tão, mais tão lindo. Que pela primeira vez me belisquei só pra ter a certeza de não estar sonhado. Seus olhos azuis quase cinza fitam a porta com ansiedade. Seu cabelo estava completamente bagunçado pelo vento. E sua musculatura não deixava nada a desejar. Abri a porta devagar e com um sorriso tímido. Fiquei desconcertada quando vi a cara de decepção no rosto do rapaz. Me deu bom dia e me perguntou se Caroline estava em casa. Ótimo, ele estava a procura de outra mulher. Sabia que tava bom demais em pleno dia de chuva um Deus grego bater na minha porta. Caroline, era a antiga dona da casa na qual eu e minha família passou a morar faz um mês. Se ele era próximo dela (pelo menos eu achava que era) como ele não sabia? Educadamente, respondi que não. Que ela tinha se mudado e eu era a nova proprietária. Seu rosto demonstrou uma confusão que me segurei para não ter de rir. Ele perguntou se eu sabia pra onde ela fora e mais uma vez eu respondi que não. Confesso, que no fundo tive pena. Ele parecia muito triste. Devia estar com saudades da namorada (será que ela era mesmo a namorada dele, eu me perguntava?). Ele passou um tempo olhando pra chuva e eu fiquei o observando. Assim que percebeu, virou pra mim e se desculpou pelo incomodo. E agradeceu duas vezes seguidas pela gentileza.

Impressionada por toda a sua simpatia, pensei em oferecer um xícara de café. Mas, descartei a ideia, quando pensei na tal da Caroline, a namorada dele.

Sinto muito, mas eu não sou do tipo que convida o namorado das ex proprietária da casa pra um café. Com um sorriso sincero disse que sentia muito em não poder ajudar. Ele sorriu pela última vez acenou com a cabeça em forma de reverencia e seguiu em direção ao seu carro. Quando abriu a porta, antes de entrar, disse: "minha irmã vendeu a casa para a pessoa certa" entrou no carro, ligou e foi embora velozmente. Deixando eu boba, brava e decepcionada, por não ter o convidado para uma xícara de café.