A solidão que faz bem

 Um banco de praça qualquer. Um livro pra ler. Uma maça pra acompanhar. Fones de ouvido são sempre uma boa opção. Se acomodar. Esticar as pernas. Observar. Observar duas vezes. Observar três vezes. Inventar estórias pra cada pessoa que passar. Um cara com seu cachorro. Uma mulher com sua filha. Um casal de namorados. Dois passarinhos que decidiram "virar" terrestres por cinco segundos. Um bebê em um carinho, dando risadas para as caretas do que parece ser uma Tia. Mas, pode ser mãe, pode ser madrasta, pode ser...

Largo meu desvaneio no banco ao lado e me levanto de súbito, quando vejo uma garoto. Não era conhecido. Mas, ele me intrigava. Um livro cobria seu rosto. Porém, eu não conseguia ler o título por estar muito longe. É, ele tinha despertado a minha curiosidade. Fui me aproximando devagarinho. Mais perto. Só mais um pouquinho. Até que em frente ao desconhecido-e-intrigante-garoto-do-banco-eu disse:

- Posso sentar? - Perguntei sem timidez. Minha extrema curiosidade e minha pouca timidez, me fazia cometer atos impensados, muitas vezes. Tá permitido me chamar de louca.

Ele abaixou o livro devagarinho. Como se estivesse em estado de choque. E céus, que olhos lindos! Não eram azuis, nem verdes-sem-graça como os meus. Eram cheios de segredos, mistérios, a cor de um castanho alguma coisa que não sei explicar. Seu cabelos eram tão lisos que alguns fios caiam sobre seu rosto, sem permissão. Parei. Chocada. E não pergunte o por quê.

- Sim, por favor. Respondeu com um sorriso tímido.

Sua resposta me pegou de surpresa. Sentei-me ao seu lado e sem discrição alguma olhei para o livro que já estava novamente em frente ao seu rosto. Era de Jane Austen, persuasão. Droga. Eu nunca tinha conseguido terminar de ler esse livro. Pela primeira vez vi um título que não ia saber o que comentar sobre. Na verdade até saberia, se prestasse atenção na hora que lia a estória. Afinal, já passei da página 50 e tal, mas a narrativa nunca conseguia me prender. Frustada, abri meu livro, a ditadura da beleza e a revolução das mulheres de Augusto Cury, que já saberia de cor se tivesse memória fotográfica, e tentei prestar atenção.

- Eu gosto disso. - Falou o estranho me pegando de surpresa.

- Gosta de quê? - Perguntei curiosa.

- Desse tipo de solidão, sabe? Ficar de longe olhando as pessoas. E não se preocupar com a hora. É bom, não é verdade? Quando a vi, estava pensando em realmente ir até lá. Eu estava curioso pelo título do livro que estava lendo. Você ora lia, ora observava as pessoas passar. Curioso, sempre faço isso. Só que, geralmente quando venho pra cá, gosto de ficar só. Decidi então, não te interromper.

- É. Esse tipo de solidão faz bem. Mas, não faz mau interromper um pouquinho. Faz?

Curiosamente, recebi um lindo sorriso como resposta.

                                                                                                           

Comentários

  1. Que lindo, você escreve super bem!
    Acabei de conhecer o seu blog e posso dizer que estou apaixonada por ele haha
    Beijos <3
    http://confusionofthoughtss.blogspot.com.br/

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  2. Que lindeza de palavras, tem solidão que é tão boa.

    www.iasmincruz.com

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  3. Ótimo texto, gosto disso também, mas geralmente corro para a minha livraria preferida e fico lá me acalmando, observando as pessoas escolherem seus livros, cheirando livros novos ou tomando um café rs.
    Tá rolando sorteio lá no blog, conto com a sua participação! Fiquei um tempo fora da blogosfera e estou voltando agora, obrigada pela sua visita anterior <3
    Beijocas da Lét

    http://ddreamsoficial.blogspot.com.br/

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  4. Ellen, lindo texto.
    Essa solidão eu amo e curto muito
    Otimo feriadão
    Brubs
    contodeumlivro.blogspot.com.br

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  5. Que texto maravilhoso, Ellen! <3 <3 <3 Já estava com saudades dos seus escritos.
    Eu sou tão assim. Gosto de ficar imaginando histórias pras pessoas e tentando adivinhar a vida delas, e também me interesso por pessoas lendo.
    Ah, e olhos verdes nunca são sem graça!

    Adorei a cena e o sorriso resposta!

    Um beijo
    www.naotenhopressa.com

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  6. Que texto lindo Ellen. Anseio por uma continuação e ao mesmo tempo não. Esse sentimento de algo no ar, de será que vai rolar algo mais do que esse papo rápido foi o que mais gostei.
    Até mais. http://realidadecaotica.blogspot.com.br/

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  7. nhaawn que texto lindo e é de "momentos assim" que precisamos. Adorei me identificar com "ela", geralmente leio e paro para observar as pessoas e me perguntar o que estão pensando/vivendo!
    Amei amei amei <3
    http://www.valeuapenaesperar.com/

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  8. Muito bom o texto, adorei!
    Ás vezes essa solidão faz muito bem para as pessoas...
    Beijos!
    www.mahmaquiagens.blogspot.com.br

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  9. Que coisa mais fofa esse texto Ellen <33 Ai, quando eu morar em NY sempre acharei um tempinho pra ficar no Central Park fazendo isso! hauhauha ♥

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