Cínico

Eu  te vi de longe. Nem a lente escura do meu óculos de sol conseguiu te esconder. Dei só uma espiadinha em você e virei a esquina. Decisão errada. Você me viu e fez questão de gritar bem alto meu nome. Péssima ideia sair de casa essa hora da tarde. Nem consegui pagar as contas e agora meu ex quer "bater um papo". Virei lentamente e me deparei com você bem a minha frente. Fiz uma cara nada simpática enquanto você sorria abertamente pra mim. Tive vontade de ser bem grosseira. Mas, murmurei um oi de mau gosto e dei um meio sorriso.

Senti vontade de dar na sua cara quando você me abraçou de repente.

"Você continua aquele cara cínico de sempre, né?" Pensei comigo mesma. E claro, deixei que me abraçasse até não querer mais. Percebi, que cheirou minha nuca rapidamente. Com certeza, estava checando se eu ainda uso o mesmo perfume que usava quando éramos um casal. Se enganou, bobinho. Eu mudei. Quando finalmente me soltou, senti que me olhava diferente e não parou de me fazer perguntas."Tem um novo namorado?" "Vendeu seu carro?" "Você ainda mora no mesmo lugar de antes?" Respondi educadamente usando monossílabos. Como eu estava pouco comunicativa, você continuou insistindo na conversa. Até que impacientemente, você passou a mão na barba (como sempre faz quando está nervoso). E me chocou dizendo:

"Eu acho que ainda poderíamos dar certo"

Eu fiquei atônita ao ouvir isso de você. Como pode alguém que me fez sofrer tanto pedir uma segunda chance? E ainda, tão descaradamente? Daí lembrei, de uma frase bem típica da minha mãe: Só damos valor a algo quando perdemos. Será que só agora viu que eu "servia" pra você? Sinto muito, mas eu não sou de dar segunda chance a uma pessoa que não mereceu nem a primeira. Lhe dei as costas, sem dizer uma palavra. O silêncio, foi a melhor de todas as respostas.