
Entro correndo por uma porta de madeira pesada já com um pedido de desculpas nos lábios, quando
me dou conta de um alguém inesperado em minha frente, e de repente, perco a
fala. Ele sorri para mim, aquele mesmo sorriso de lado, que antes me fazia
estremecer de expectativa e... paixão.
- Posso ajudar? A chuva lá fora deve estar muito forte, imagino.
Ele se oferece para pegar meu casaco, obrigando-me a sair do estado de
torpor que me encontrava, quando desajeitadamente tento organizar a nuvem de
pensamentos em minha mente, sorrio timidamente na vã tentativa de amenizar o
clima de tensão que havia pairado sobre nós. O casaco não fez falta nenhuma quando o
retirei de cima do vestido, o aquecedor daquela loja realmente era
espantosamente forte. Ele se retira para pendura-lo, e então aproveito a deixa
para observar ao meu redor, acabo me dando conta que nunca entrei em um lugar
tão fino assim nos 25 anos de minha vida. Não tinha muita gente, mas os clientes que estavam sendo atendidos pareciam ser de uma alta classe. Um pensamento estala em minha cabeça
por repetidas vezes: "Marcela, você entrou no lugar errado. Saí
daí!". O problema era que eu não conseguia me mover, algo me prendia ali,
e podia garantir que não era a chuva lá fora.
Ele volta. Vem trazendo uma xícara de chocolate quente que apenas seu
cheiro faz meu estômago se apaixonar.
- Marcela, sente-se por favor. Vai ficar em pé até a chuva passar? Não
sou Deus, nem nenhum meteorologista, mas posso concluir que vai demorar um
pouco. - Disse com o mesmo sorriso, aquele mesmo sorriso, que droga!
Estremeço quando ele toca em meu braço e me puxa levemente em direção ao
sofá de couro. Sento e cruzo as pernas tentando relaxar enquanto ele põe a
xícara de aroma delicioso na mesinha em minha frente.
- Beba. - Ordenou, dessa vez com uma voz e expressão séria.
Tomo um gole do chocolate quente, encaixo meus pensamentos e logo explico
de uma vez por todas porque estava ali.
- Tom, bem, é... Olha, me desculpe, de verdade. Não quis invadir a sua,
sua loja, é que estava chovendo muito e... precisei me refugiar em algum lugar
e, nem reparei onde estava entrando, prometo que vou embora, logo, já já. -
Tagarelei apressadamente, porém logo me arrependi ao ver sua expressão
divertida.
- Não precisa explicar, eu percebi. Você não é do tipo que foge das
coisas. Mas, e se eu não quiser que você vá já já? - Perguntou baixinho
sentando-se ao meu lado. "Corre, Marcela, corre!" vibrava o
pensamento em minha cabeça.
- Como? - Consegui finalmente perguntar.
- Fica. Fica comigo, Mar.
Tom se aproximou devagarinho como se estivesse me estudando, enquanto eu permanecia muda, quieta e assustada. Aquele era o dia mais louco da minha vida.
Mas eu precisava ir embora, sabia que se permanecesse depois iria me
arrepender. Mas eu estava presa, presa naqueles olhos cor de mel, presa naquela
voz suave que antes sempre me fazia estremecer, presa naquele toque que despertava
reações intensas em mim. Eu poderia ficar ali para sempre. Intimamente isso era é o que eu queria. Mas daí eu lembrei, lembrei de tudo. Me recordei de toda a angústia, de
toda a dor, de todo o amor que foi rejeitado. De todos os momentos que bebi da
indiferença quando o que eu doava era carinho, atenção e cuidado. De todas as vezes que não passei
de um objeto. E era apenas isso que ele queria que eu fosse, um objeto, só que de novo
não, não mais.
E de repente, não queria mais estar ali, queria ir, precisava ir embora.
Levantei-me apressadamente, agarrei meu guarda-chuva que estava largado no chão e
corri. Corri em meio a chuva ignorando meu casaco que ficou para trás e a voz
que dizia: "Você não é do tipo que foge, Mar. Volta!". Eu preferia
pegar uma gripe, uma pneumonia naquela chuva, mas não voltaria a permitir machucar meu coração de novo.
Muito bom o texto, adorei!
ResponderExcluirFiquei curiosa para saber o que aconteceu depois com aMarcela e o Tom.
Beijos!
www.mahmaquiagens.blogspot.com.br
Nossa que texto lindo *O* Você escreve muito bem,tem o dom haha !
ResponderExcluirBeijos!
( Mundo da Laís )